sábado, 8 de fevereiro de 2020

A Beterraba, a Geosmina e a Verdade dos Fatos


Na tarde de quinta-feira, 06 de fevereiro, a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES exerceu sua melhor vocação – promover o debate técnico-científico sobre assuntos relacionados ao saneamento ambiental e de interesse da sociedade – colocando a qualidade da água fornecida à população da Capital e mais 6 cidades da Baixada Fluminense como tema central de uma Webinar. Presentes, o Presidente da CEDAE (acompanhando de Diretor e Assessores da Companhia), a Sub Secretaria de Recursos Hídricos e Sustentabilidade da Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, a representante do Comitê Guandu, do representante da AGENERSA – Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro, o Presidente da Seção Rio de Janeiro da ABES e eu ,que lá estava representando a Diretoria Nacional da Associação.
O encontro contou com mais de 100 pessoas de vários Estados no chat pela Internet e durou mais de 2 horas. Após uma exposição institucional do Presidente da CEDAE, os participantes mantiveram profícua interação sobre o tema central – a qualidade da água e suas condições para consumo humano. A dinâmica foi séria e proveitosa como de costume da ABES ao longo de suas mais de 5 décadas de experiência.
]No entanto, a maior Rede de televisão do País, ao veicular a matéria, destacou aspectos que merecem ser analisados. Por exemplo, quando em tom de ironia (esse é o melhor termo que me ocorre) edita a fala do Gerente de Qualidade da Água da CEDAE ao destacar o trecho em que menciona que a água tem sabor e aroma. E tem! Ou será que nunca foi percebido o cloro na água fornecida? Da mesma forma quando trata do sugestionamento das pessoas. Eu próprio mencionei esse aspecto, mas a fala do Gerente é que teve destaque. Certamente ele é o técnico responsável, mas por que tratar a sua participação sem o merecido respeito?

Num outro ponto da matéria, é destacada a fala da Subsecretária de Recursos Hídricos e Saneamento quando mencionou a beterraba e a geosmina. Pois bem, a título de esclarecimento aos interessados, vale dizer:  “a geosmina também está presente na beterraba e nos peixes, e é a responsável por introduzir nesses alimentos o cheiro e o gosto”. O que foi dito é sério e verdadeiro. No entanto, a edição parece ter sido feita para propositalmente tentar ridicularizar a fala da técnica.
(vide https://escolakids.uol.com.br/ciencias/cheiro-de-terra-molhada.htm )
Num raro momento de descontração, eu incentivei a representante do Comitê Guandu a juntar-se a todos ao ingerir a água da casa. Sim, porque a água servida aos participantes, era água do serviço público; água de boa qualidade e com padrões de potabilidade que garantem a boa saúde humana. Esse rápido instante foi o bastante para que os espectadores do tele jornal ouvissem de dois repórteres algo como: ” O bom humor dos participantes contrastou com o péssimo estado da estação de tratamento do Guandu” e “Será que é hora de fazer graça?
As pessoas que me conhecem sabem o quanto defendo e respeito a livre imprensa, o quanto lido com naturalidade com a pluralidade de opiniões, opções e comportamentos. Contudo, e parafraseando as falas dos repórteres, eu indago: A zombaria das matérias veiculadas estará de acordo com a seriedade de um grande veículo de comunicação? Será hora de fazer graça? Deixem essa parte para os chargistas. Mas façam jornalismo com o respeito que a sociedade e o tema em questão merecem.
Diante de tudo isso percebo, curiosamente, que muitos dos cariocas que estão criticando a Operadora dos serviços de saneamento, que estão com dúvidas (e confusos) sobre a qualidade da água fornecida e comprando água mineral como se isso fosse a redenção de todos os pecados, perderam a chance de se plugar na Webinar. Talvez por estarem muito ocupados; talvez por deixarem de ter sido comunicados apropriadamente da Webinar; talvez por ser mais fácil criticar a Operadora e desacreditar a qualidade da água, do que ter informação confiável. Um pouco de cada, um pouco de tudo.
De minha parte me mantenho consumindo a “água da casa” sem medos ou receios, e à disposição dos interessados para a troca de informações que nos permita melhor conhecimento da realidade. Basta de falsas informações ou de alarmismos inconcebíveis. A História há de nos dizer, no futuro próximo, qual a real intenção por trás dessas atitudes que só confundem o cidadão comum.
Joper Padrão