A água é uma substância química formada
pela combinação de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio – H2O. Essencial à vida sobre a face da Terra. Em
seu estado líquido, cobre a maior parte da superfície do Planeta. Menos de três
por cento desse precioso bem natural é encontrado fora das massas líquidas dos
oceanos (estes com alto índice de
salinidade) e, por isso, conhecido com a
denominação comum de “água doce”. Ao longo da história da humanidade, está
presente nos transportes, na lavoura, no
comércio, mais recentemente na produção industrial e, desde sempre, no uso pelo
homem, quando em condições adequadas de potabilidade. A água é conhecida e reconhecida
por todos, sem exceção; Inexiste quem ignore o seu valor e importância. Três
milhões de espécies de vida já classificadas sobre a Terra dependem da água
para sua existência.
E a Goesmina, o que tem a ver com o
Diamante e com a Água?
Esgotos despejados em corpos hídricos alimentam algas que liberam uma substância (um álcool terciário [1,10-dimetil-9-decalol] que não tem toxidade) denominada Geosmina. De tamanho minúsculo, é inofensiva à saúde
humana. Contudo, essa toxina empresta cor, aroma e sabor semelhante a terra o
que torna a água potável com aspecto repugnante aos usuários, por mais que
autoridades garantam ser inócua aos animais, inclusive ao ser humano. Nos
corpos hídricos adotados como mananciais para captação de água para
abastecimento público, a ocorrência de Geosmina torna-se um episódio esporádico
e indesejado, mas que ocorre alheio à vontade de governantes e governados. É
natural. Simplesmente acontece.
Ora, então o que esses três elementos têm
em comum?
Os fatos recentes ocorridos no
abastecimento da Capital e de algumas cidades da Baixada Fluminense, no Rio de
Janeiro, com a água produzida na Estação de Tratamento do Guandu, tem levado a
população a ser bombardeada por informações de toda sorte, e das mais diversas
fontes. Algumas apócrifas. E como convêm aos tempos atuais, muitas falsas,
reforçando o rol das tão em moda Fake News.
Mas tem, também, aquelas com autores identificados, assinadas por profissionais
do meio acadêmico (alguns renomados, nem todos ...), empresarial, político, jornalístico
e outros mais, cada qual tratando sobre
o tema segundo seu ponto de vista.
Leonardo Boff afirma (e eu concordo): Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Nesse caso, cada um exprime a intenção a
partir do seu ponto de vista em que se encontra.
Até eu, Joper Padrão, economista e
contador, dirão aqueles que gentilmente dão atenção aos textos que produzo, tenho
me pronunciado (esse é o meu terceiro texto a respeito do assunto) como o faço
aqui. É verdade! Trago comigo, como base de sustentação, mais de cinco décadas
de atuação em diversas áreas de uma das maiores empresas estaduais de
saneamento da América do Sul, o fato de ter sido membro da equipe de fundadores
da primeira fundação estadual dedicada à engenharia ambiental, e como dirigente
em âmbito nacional e local da associação que congrega profissionais e empresas
do setor de saneamento e meio ambiente, cujo quadro associativo é de
reconhecimento e respeitabilidade internacional.
Convivi com Sigrified Hoyler, consultor
no campo do comportamento humano, fundador das Faculdades Hoyler que, num dado
momento, me afirmou: Joper, você pode
formar um médico em 5 ou em 20 anos. Nos bancos universitários, ele sai pronto
em 5 anos, com um grade investimento financeiro e de transferência de conhecimento.
Na vida prática, ele será um médico após 20 anos de experiência. A diferença é
de tempo e de método de aprendizagem. Eu, portanto, me considero um
economista capaz de expressar minha opinião a respeito de alguns temas no campo
do saneamento e meio ambiente após tantas décadas de atuação nesses setores.
Pois então, vou expressar mais uma
opinião nesse imbróglio. Pelos inúmeros
textos e matérias, percebo que estes representam pessoas sentadas em torno do
mesmo diamante (a qualidade da água e o fato ocorrido) interpretando cada faceta
de acordo com o seu ângulo de visão. E, do lado externo da mesa em que o
diamante é contemplado, ao largo desses "obervadores", a população,
aturdida com as opiniões de cada um dos interlocutores.
Os “observadores” que estão
interpretando as facetas do diamante me fazem lembrar a obra do notável dramaturgo
italiano Luigi Pirandello em Assim é se
lhe parece, peça em que vários personagens, que representam diversos
segmentos da sociedade (o alcaide, o padre, a os comerciantes, os burgueses
...), tem visões absolutamente diferentes sobre o mesmo fato - um casal
(personagem central) que apenas entra e sai de uma torre, sem dizer nada mais
que “bom dia” e “boa noite”. A plateia fica mais e mais confusa na sua
interpretação com o desenrolar dos diálogos, e cada espectador tem um entendimento absolutamente
diferente do outro. Verdadeiramente espetacular para que seja possível entender
situações como a do imbróglio sobre a qualidade da água (nesse caso, o personagem central dessa estória).
Quanto à Geosmina, vê-se
segmentos os mais diferentes opinando: da Academia, da Economia, do Mercado, da
Governança, das Relações de Trabalho, do Conhecimento Técnico, da Imprensa, da
Política, do Psicologia, da Sociologia, da População, e tantos outros.
Cada qual tenta trazer a sua
contribuição à luz de sua visão e experiência.
Em tese, estão bem intencionados em
fazer com que a qualidade da água seja assegurada, mas excessos ou mesmo
impropriedades decorrem, com absoluta naturalidade, dessas manifestações.
Um exemplo gritante é quando
alguém sugere o consumo de água mineral enquanto a qualidade volta a sua
normalidade. Será que todos têm recursos para seguir essa orientação? Como
ficam os menos favorecidos, que mal possuem meios para pagar os seus despesas
de habitação, transporte e alimentação? Qual
o propósito dessa manifestação? Favorecer o mercado de venda de água envasada (preço
da água mineral dispara e aumento pode passar de 40%, e escassez do produto nos
pontos de venda vira matéria da imprensa). Certamente será o de proteger a
saúde dos consumidores. Porém, sem levar em conta a capacidade de acesso da maior
parte daqueles que receberão essa informação.
Outro exemplo, é quando se clama pela
despoluição do manancial onde é captada a água para tratamento, como se o
saneamento das cidades vizinhas à Estação de Tratamento, fruto da falta de
investimentos por décadas, fosse algo
alcançável em curto espaço de tempo. As cifras apresentadas são astronômicas
(R$ 1,4 bi para despoluir o manancial). Qual o propósito dessa interpretação? Desvalorizar as ações da empresa estadual de saneamento cujo
processo de desestatização é fruto do Plano de Recuperação Fiscal? Certamente o
propósito será o de estimar os investimentos necessários e alertar as
autoridades. Contudo, sem considerar os impactos imediatos no valor patrimonial
da empresa no mercado.
Um chargista coloca o Governador
do Estado brindando com um copo de água vazio; um colunista menciona uma rede
de relacionamentos e associa a “água da casa”, a água potável servida
gratuitamente em bares e restaurantes (por força de Lei) À sua nota pitoresca ,
indagando ao final: Alguém se arrisca?. Claro que ao ler essa nota eu prontamente me
inclinei a responder (e o farei por Carta dos Leiores) ao responder: Eu sim! E ao invés de considerar um risco, o
meu hábito contínuo e permanente de me servir da “água da casa” é o que mitiga
a minha sede e garante minha boa saúde.
Dizer que nada está acontecendo
seria falsear a verdade. E estou longe desse propósito, como também do de
defender qualquer dos atores em cena. Contudo,
devo reconhecer que as providências de mitigação foram adotadas e a qualidade
da água continua a ser assegurada pelas análises divulgadas por entes públicos
de esferas diferentes (terceira opinião), além da própria operadora e fornecedora dos serviços de abastecimento público.
Bom seria se todos tivessem, como
eu procuro ter em meus textos, o senso da responsabilidade junto à opinião
pública prevendo os reflexos das palavras proferidas sobre aquilo que assim é,
se nos parece ser. Cada um dos observadores desse diamante (a qualidade da
água) tem o direito de ver a sua beleza segundo seu ângulo de visão, seu ponto
de vista, mas sem perder de seu horizonte que o espectador atrás de si (a
população) irá absorver a informação a seu modo. E, nos dias atuais,
desmoralizar o que quer que seja é rápido como um rastilho de pólvora, enquanto
recuperar a credibilidade consumirá tempo e recursos.
Prudência é uma atitude sem
contraindicações. Usemos a saudável água da casa. Sem medos ou receios. Só com
a prudência que sempre devemos ter com esse precioso líquido, tão precioso
quanto um diamante. Quanto à Geosmina ... ela que siga o seu curso na Natureza,
sem que nos traga dúvidas ou incertezas desnecessárias e indesejáveis.
Joper Padrão
Ilustração de destaque colhida em https://de.cleanpng.com/png-4fkmlg/ ilustração secundária colhida em https://unalucciola.wordpress.com/tag/assim-e-se-lhe-parece/ visitados em 18/01/2020 às 11h30;