segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

O nosso maior patrimônio líquido merece ser valorizado

Sou contador, economista e ambientalista. Atuo no setor do saneamento ambiental desde meus 18 anos de idade.  Mesclando essa experiência de décadas e  competências adquiridas, apresentei e defendi, no 15º Congresso da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, realizado em 1989 em Belém do Pará, o trabalho técnico que intitulei “E O Nosso Maior Patrimônio Líquido, como Vai???”

Naquele momento eu expus a minha visão ao reconhecer a qualidade da água como um valioso patrimônio (líquido) para a saúde da população. E defendi a tese de que o cidadão podia se servir da água potável produzida pelas empresas estaduais de saneamento com absoluta segurança  segurança sanitária.

Naquele trabalho técnico eu registrei o hábito que sempre tive de pedir, em bares e restaurantes, para ser servido com água potável, a mesma água filtrada com que o próprio garçom mitigava a sua sede. Passados 26 anos, vi com alegria ser sancionada pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro a Lei 7.047/2015, de iniciativa do Deputado André Siciliano, que “obriga bares, restaurantes e estabelecimentos similares a servirem água filtrada aos clientes”.

Pronto! O que antevi em 1989 agora passou a se incorporar à cultura do povo Fluminense. Hoje, em qualquer estabelecimento, é comum se pedir: “Por favor, um copo de água da casa”, e o cliente é prontamente atendido, sem qualquer reação.

Essa conquista destaca o Rio de Janeiro como pioneiro (e até onde eu saiba – o ÚNICO Estado da Federação) no reconhecimento da qualidade da água produzida e servida à população pelas operadoras dos serviços de abastecimento.

Quando alguma crítica aos serviços de abastecimento de água chega a meu conhecimento, eu costumo levar o interlocutor a analisar há quantas décadas a água potável atende aos padrões de potabilidade e garante a saúde da população.

Isso porque normalmente as críticas são oriundas da insatisfação com o calor das contas, com a falta de medição do consumo, ou com vazamentos em vias públicas, sem se relacionar  com a qualidade, esta de inquestionável qualidade.

Contudo, a população nem sempre tem em mente reconhecer o que é positivo em relação ao tema. Até que um episódio esporádico, ocorrido nesses primeiros dias de 2020 e em determinadas localidades, veio trazer à tona a valorização da qualidade da água como um fator importante para o nosso bem-estar e boa saúde.

Justamente quando o processo de desestatização da operadora estadual – a CEDAE - é colocado em evidência repetidas vezes pela imprensa, ocorre um fenômeno causado pela ação de uma substância orgânica produzida por algas – a Geosmina - e que em nenhuma circunstância representa nenhum risco à saúde dos consumidores.

Embora a Geosmina seja neutra em relação aos riscos à saúde, sua presença altera o gosto e o cheiro da água. Como esclarece Nota de esclarecimento à população, “o fenômeno natural e raro de aumento de algas em mananciais, em função de variações de temperatura, luminosidade e índice pluviométrico, causa o aumento da presença deste composto orgânico, levando a água a apresentar "gosto e cheiro de terra". Casos semelhantes ocorreram no Rio de Janeiro 18 anos atrás; em São Paulo, em 2008, e em municípios dos estados da Paraíba e do Rio Grande do Sul em 2018, por exemplo.”

Como e natural que aconteça, as pessoas estranharam a turbidez, o aroma e o sabor da água em alguns dias. Afinal, a grande maioria da população está acostumada a ser servida diuturnamente por uma água insípida, inodora e incolor. E, como também é natural nos dias atuais, falsa notícias logo passaram a circular por grupos virtuais.

A CEDAE tem feito a sua parte, tanto na neutralização da ação da Geosmina, quanto na recuperação do aspecto da água fornecida, quanto no esclarecimento à população por seus meios de comunicação e pela imprensa. Cabe a nos, cidadãos, agora, fazer a parte que nos toca e manter a confiança nesse produto de alto valor para o bem-estar, para a saúde e para a vida das pessoas.

Eu continuo pedindo para ser servido de "água da casa" nos bares e restaurantes. Afinal, como penso e defendo, o nosso maior patrimônio líquido merece ser valorizado.

Joper Padrão


(imagem colhida em https://microambiental.com.br/servicos/analises-de-agua/agua-potavel/ visitado em 09/01/2020 às 19h30)

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