domingo, 26 de junho de 2016

O AGUADEIRO DE SEVILHA - UMA FONTE PERMANENTE DE INSPIRAÇÃO

Diego Velásquez (1599-1660), pintor sevilhano  de ascendência portuguesa, imortalizou sua crítica social em várias de suas obras. Certamente motivado por minha dedicação às questões do saneamento básico, destaco a tela “O Aguadeiro de Sevilha”. Um fonte permanente de inspiração.

Nesta, datada de 1620, Velásquez retrata um homem alto, mal vestido, humilde, com um cântaro em sua mão esquerda, enquanto serve água, com sua mão direita, numa taça de cristal, a um menino da nobreza. Suas vestes modestas contrastam com a gola de rendas finas do jovem a quem serve.

Ao fundo um terceiro personagem,  em penumbra, mitiga sua sede com um copo de vidro à boca.

Tenho uma gravura do Aguadeiro em minha residência e, quando participei do Conselho Editorial da Revista Bio, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, consegui faze-la capa de uma das edições.

Sempre que percebo a tendência de se tratar os serviços públicos de abastecimento de água potável como um mero negócio, Velásquez ressalta em minha mente. Sim, porque uma pergunta me é recorrente: como fica o acesso das populações economicamente menos favorecidas a esses serviços, vitais à saúde, se aqueles que explorarem tal atividade tiverem o lucro como legítima finalidade de suas atividades?

O Estado do Rio de Janeiro passa por severa crise econômica. Esse fato é do conhecimento internacional dado a proximidade das Olímpiadas e ao fato de aos 49 dias de sua abertura oficial o Governo do Estado ter decretado (num ato inédito) do estado de calamidade pública para se defrontar com risco do total colapso na segurança pública, na saúde, na educação, na mobilidade e na gestão ambiental.

Como principal acionista da CEDAE, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos, o Governo do Estado também anuncia a sua intenção de vender esse ativo, estimado em R$ 4 bilhões (embora a empresa tenha passivos de R$ 2 bilhões, segundo O Globo de 23 de junho de 2016), para abater o resultado da dívida de R$ 67 bilhões com a União.

Embora a pressão para a privatização das empresas estaduais de saneamento seja um tema recorrente há longo tempo, ler essa notícia nesse momento crítico da economia fluminense me faz pensar na metáfora daquele indivíduo que, endividado, decide vender a roda de seu carro, coloca-o num cavalete, e com o resultado da venda, enche o tanque de gasolina do seu veículo.

O assunto merece extrema atenção e lúcida reação da sociedade. Serviços dessa natureza jamais poderão ser tratados com essa ótica. Assim penso, assim acredito, assim defendo.



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