domingo, 22 de novembro de 2015


PALESTRA MAGNA PARA O XXXI ENCONTRO NACIONAL DOS CONTADORES DO SETOR DE ENERGIA ELETRIA
ÉTICA NAS CORPORAÇÕES
Uberlândia, 22 de novembro de 2015
“A Vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro da Vida”.
Vinicius de Moraes, diplomata, dramaturgo, jornalista, poeta e compositor viveu intensamente e traduziu em sua obra o muito que observou da natureza humana. Os relacionamentos, o amor e a busca da felicidade foi uma constante em sua vida.
Organizações são o resultado da interação das pessoas que as integram, afirmo baseado na observação de muitas empresas brasileiras e mundiais que estudo ou pelas quais passei em cargos de direção. Não é à toa que no direito português utiliza-se, acertadamente, a denominação de “pessoas coletivas”, ao que no direito brasileiro consagrou-se denominar como “pessoas jurídicas”. Estas são entidades abstratas, criadas pelo homem, às quais se atribui personalidade.
Algumas, mesmo submetidas a severas dificuldades, mantiveram suas operações graças ao envolvimento e à dedicação de suas equipes. Um caso clássico é o da VARIG, empresa brasileira de saudosa memória no mundo dos negócios, que permaneceu com seus voos e lojas com atendimento a seus clientes sem que estes percebessem seus desafios econômicos até o dia da efetiva paralização das aeronaves nos seus hangares. O amor de seus comandantes, comissários, e aeroviários fez esse fenômeno ocorrer.
Thomas Mann afirmou: “Aquilo a que chamamos felicidade consiste na harmonia e na serenidade, na consciência de uma finalidade, numa orientação positiva, convencida e decidida do espírito, ou seja, na paz da alma”. Assim agiram os briosos homens e mulheres da VARIG.
Se as pessoas interagem de forma favorável, o mercado percebe os resultados positivos. Na contramão desse estilo comportamental, se os colaboradores cumprem suas tarefas sem compor times comprometidos, logo se fazem sentir os efeitos negativos.
Esse axioma - Organizações são o resultado da interação das pessoas que as integram - é aplicável a entes públicos ou privados; de pequeno, médio ou de grande porte; quaisquer sejam suas dimensões, se locais, regionais, nacionais ou mundiais. Conceito aplicável a empresas, entidades do terceiro setor, e mesmo a governos e grupos políticos. Nesse caso, basta ler o noticiário e constatar os acontecimentos em curso em nossa Capital Federal.
Por essa via de interpretação, a Ética das Organizações tem relação direta com a Ética das pessoas que lhes dão existência jurídica.
Dentre os principais fatores que concorrem para a melhor ou pior interação das pessoas em suas atividades destaca-se a satisfação pelo que fazem, seja por dever de ofício, seja pela opção pessoal. Em palavras objetivas, pelo nível de satisfação, realização, felicidade, amor ou mesmo paixão por seu labor.
Um contador português, notável por sua vasta obra literária, afirmou em seu poema intitulado “Felicidade”:
A gente faz o que quer
Daquilo que não é nada,
Mas falha se o não fizer,
Fica perdido na estrada.
Fernando Pessoa é o guarda livros mencionado, e sobre seus diferentes papeis ora contabilista, ora poeta, foi dito: “A contabilidade traz o poeta à realidade e não permite que fique numa dimensão apenas transcendental que de exacerbada prática pode conduzir à alienação e loucura; por outro lado a poesia leva o guarda-livros/contabilista a outra dimensão, não normativa, sem códigos ou coimas, espiritual e livre!”
 O ser humano é talhado para ser feliz. E o fruto da felicidade ecoa na eternidade.
Profissionais da atualidade, bem sucedidos, exercitam os princípios do que denomino serem LIDERANÇAS MULTIDIMENSIONAIS. Associam cinco conjuntos de práticas em seu cotidiano de vida.
No primeiro conjunto, consolidam sua competência profissional continuamente, sem cessar o aperfeiçoamento e atualização técnica. No segundo, desenvolvem atividades voluntárias em favor de suas comunidades, doando suas habilidades e colocando suas redes de relacionamentos a serviço do bem comum.  No terceiro, desenvolvem sua cultura geral continuamente ampliando suas percepções sobre outros aspectos da vida em sociedade. No quarto, aprofundam a compreensão existencial, a missão do ser, os propósitos e a razão de viver, transitando simultaneamente em três mundos: o material, o sutil e o transcendente, como define Deepak Chopra. E no quinto conjunto, vivem suas vidas com base em princípios e valores que vão se aperfeiçoando ao longo de uma verdadeira caminhada sem linha de chegada, como defino o exercício da ética.
Lideranças multidimensionais são capazes de influenciar positivamente o resultado das organizações, contribuindo para que suas práticas sejam reconhecidas como autenticamente éticas.
“Nós somos o que fazemos repetidamente. A excelência, portanto, não é um ato, mas um hábito”,  disse Aristóteles. Pessoas que colocam em prática com naturalidade os cinco conjuntos que proponho, são cidadãos integrados à sua sociedade e à Natureza levando suas atividades a resultados que elevam a dignidade do ser humano.
Aqui, em solo do glorioso Estado de Minas Gerais, que tanto fez e continua a fazer pela Nação brasileira, assistimos perplexos a uma das maiores catástrofes ambientais dos tempos modernos. Refiro-me, como evidente, ao rompimento da barragem de rejeitos de mineração em Bento Rodrigues, subdistrito de Mariana, cujos danos estimam-se sejam irreparáveis à fauna e à flora do Rio Doce. Acidentes dessa ordem devem ser interpretados sob o ponto de vista da Ética das Organizações. A vida de um modo geral foi afetada na extensa região devastada pela lama que ainda se arrasta na direção do mar. Falar-se em indenizações e reparos materiais aos que sobreviveram à catástrofe parece algo surreal. Por mais que os responsáveis paguem pelos danos, jamais devolverão às pessoas afetadas o seu habitat e seu cotidiano de vida que lhes proporcionava felicidade e harmonia com a natureza.
Muito possivelmente, faltou aos homens de negócios, investidores, dirigentes da empresa mineradora e autoridades públicas responsáveis pela fiscalização, a prática de tais hábitos. Provavelmente pessoas voltadas a satisfazer seus próprios interesses, ou simplesmente alheias às consequências de seus atos (ou da falta de sua ação), acabaram por impor dramáticas transformações à vida humana, animal e vegetal nas áreas atingidas nos Estados de Minas e do Espirito Santo. É evidente que houve uma infringência ética por parte das organizações envolvidas e, na minha visão, fruto da insensibilidade ética das pessoas que integram essas organizações.
Nós, profissionais da contabilidade, escolhemos esse importante labor por razões individuais que cada um de nós sabe identificar. Orgulhamo-nos da profissão que abraçamos por opção. Com o fruto de nosso trabalho sustentamos nossas famílias, contribuímos decisivamente para o processo decisório das organizações junto às quais atuamos, e servimos à sociedade que se vê beneficiada pela qualidade das informações que processamos e colocamos à disposição dos interessados por meio dos demonstrativos que são divulgados.
Atuamos pautados pelo Código de Ética Profissional do Contador. Exercemos a profissão com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, e atuamos como seres humanos completos, cônscios de nossas responsabilidades como cidadãos.
Em minhas andanças junto aos profissionais da contabilidade, como Conselheiro eleito (e agora reeleito) junto ao Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Rio de Janeiro, tenho procurado visitar os diversos ambientes de trabalho de meus colegas de profissão. Para representar meu papel, devo estar em contato com a realidade daqueles que me confiam essa honrosa missão.
Com humildade, reconheço ser um executivo que há cinco décadas atua junto a equipes de profissionais de diversas formações. Seja como chefia, coordenação ou direção, venho trabalhando com pessoas únicas e com as quais sempre procurei manter um clima proativo, de harmonia, de desenvolvimento humano, que nos levasse à eficácia em nossos propósitos corporativos. Pessoas respeitadas em suas individualidades. Prática pautada na compreensão do outro, no respeito às diferenças, buscando a sinergia do que nos fosse comum. Um ambiente de trabalho que levasse as pessoas a terem o desejo de voltar no dia seguinte. Em que seres humanos sentissem uma significativa dose de felicidade no que faziam.
“O fato de podermos nos sentar sozinhos e pensar deu-nos uma oportunidade maravilhosa de nos modificarmos”, afirmou Nelson Mandela com total propriedade.
Quando iniciei meu convívio próximo com um grupo específico de formação – os profissionais da contabilidade, algo se destacou. Notei que quando eu lhes indagava sobre sua disponibilidade para ações voluntárias, ou a respeito de temas da cultura geral, era comum receber como resposta: “Não tenho tempo para nada. A Contabilidade me absorve totalmente”. Em certas épocas, como fechamento de exercício ou declarações fiscais, então ... Era evidente que uma pressão psicológica subtraia desses homens e mulheres a chance de usufruírem dos bons momentos de suas vidas.
Passei, então, a lhes perguntar se só os contadores eram submetidos a pressão. E traçava como paralelo tantas outras atividades do cotidiano, como os aeronautas e os profissionais da área médica, em que não necessariamente se sentiam oprimidos pela opção. Muito pelo contrário, eufóricos com seus desafios.
Daí a visita aos ambientes de trabalho dos profissionais da contabilidade reforçar a nítida impressão de que precisamos ampliar a dose de satisfação e alegria com o que fazemos, de modo a nos reconhecermos como protagonistas da cena, a importância de nosso trabalho e a contribuição que dele resulta para o desenvolvimento socioeconômico de nossos concidadãos. Isso é, reconhecer os motivos que devem nos levar a ter alegria e felicidade no exercício profissional e vivenciar a nossa multidimensionalidade na plenitude do cotidiano da vida pessoal.
Assim agindo (e reagindo) estaremos atuando com ética e, por via de consequência, nossas organizações terão práticas pautadas pela efetiva ética, muito além dos Códigos por elas estabelecidos.
A vida moderna nos impõe desafios muito interessantes quanto à consciência de quem somos efetivamente. Por exemplo, sermos reconhecidos como uma pessoa completa. Dias atrás, o motorista que me conduzia ao aeroporto Tom Jobim para esta viagem, relatou que até poucos meses não tinha uma conta bancária em seu nome. Não carecia de conta e tão pouco de cartão para sua movimentação. Suas corridas diárias eram pagas em dinheiro e com a renda que obtinha pagava suas despesas. Simples assim.
No entanto, a modernidade dos aplicativos lhe impôs passar a receber parte de sua renda por pagamento com cartões de débito ou de crédito. Teve, então, que ir ao um banco para abrir sua primeira conta. A jovem atende, consultando seu cadastro de crédito pelo CPF lhe disse um tanto constrangida: “Sr. Edson, o senhor não existe!” Claro, o homem ficou aturdido. “Como assim? Existo sim, eu lhe garanto”, disse ele com um sorriso nos lábios.
Esse atendimento terá sido ético? Que impactos emocionais poderia ter trazido ao motorista, não fosse ele um homem de bem com a vida ...
Quando os profissionais de todas as formações, quaisquer que sejam, mantiverem a lógica da multidimensionalidade – a de agir com alegria e satisfação efetivas – a ética corporativa será muito mais acentuada.  “Dizem que o tempo muda as coisas, mas é você quem tem que mudá-las” afirmou Andy Warhol.
Os recentes episódios, fruto das investigações dos órgãos federais, notadamente na conhecida “Operação Lava-Jato”, certamente estão sendo observados e estudados por muitos experts pelo mundo afora. O caso Enron trouxe transformações para o mundo dos negócios; o caso Petrobras terá reflexos correlatos.
Se atentarmos, a maioria dessas megaempresas, públicas ou privadas, estabeleceram seus códigos de ética. Contudo, o que vem a tona pelo noticiário, nos mostra que a conduta equivocada de algumas personalidades acabou por comprometer os negócios corporativos, resultando em impactos negativos para muitos, muitos outros, aqui e no exterior. Empregos foram suprimidos, lucros esperados pelos investidores foram transformados em prejuízos, contratos em curso foram abortados. Enfim, decepção e transtornos para a economia já tão combalida por outras razões.
Pouparei a todos de fazer considerações pormenorizadas sobre as questões relacionadas à ética corporativa e os atentados terroristas, mas muito nesse sentido há que ser compreendido, ainda mais para nós, brasileiros, nos momentos que antecedem a realização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, para daqui a poucos meses em 2016.
Como armas de grosso calibre podem transitar em Paris (como de resto transitam em nossas Capitais) para servirem a crimes praticados contra inocentes sob o escudo da defesa de ideologias, sejam lá quais forem?
O Embaixador Marcos Azambuja, em recente entrevista a respeito dos atentados de Paris, afirmou: “Eu não sei como começam as guerras e conflitos, mas eu sei como acabam: com uma conversa”. O experiente Diplomata traduz nesse seu pensamento a convicção de que o entendimento entre adversários ou mesmo inimigos beligerantes é a única forma de se solucionar impasses mesmo que resultantes de confrontos bélicos continentais.
A realização deste encontro XXXI Encontro Nacional dos Contadores do Setor de Energia Elétrica, pautando o tema Ética nas Corporações para a solenidade de abertura, é uma atitude auspiciosa para quem admira o trabalho que desenvolvem em seu segmento de mercado. É reconhecer que nossas mentes estão abertas para o que representa a nossa contribuição para o verdadeiro desenvolvimento social.
O setor de energia é fundamental ao desenvolvimento econômico isso é indubitável. O acesso aos serviços prestados por geradoras, transmissoras, distribuidoras, assim como os resultados do papel dos órgãos reguladores é de importância vital para a retomada do crescimento econômico de nosso Pais. A atividade que desenvolvem é imprescindível para que os processos decisórios sejam cada vez mais qualificados, e haja transparência quanto aos atos praticados.
A Associação Brasileira dos Contadores do Setor de Energia Elétrica presta contribuição de extremo valor para a consolidação das relações entre os participantes deste XXXI ENCONSEL, dando forma e cor ao ponto de vista de Tenzin Gyatzso, ex Dalai Lama que assim define as práticas éticas: “As pessoas para serem verdadeiramente felizes precisam manter amizades e boas relações – que são recíprocas. É impossível alguém construir relações positivas quando seu único objetivo é satisfazer os próprios desejos”. Estamos todos aqui reunidos nesta acolhedora cidade de Uberlândia, justamente para estreitar as amizades e boas relações, com o objetivo de promover a discussão de temas atuais e de interesse da classe contábil visando proporcionar o congraçamento técnico dos contadores que atuam nas empresas do setor elétrico brasileiro.
Antonio Machado, poeta sevilhano, afirmou: “Tudo passa e tudo fica porém o nosso é passar, passar fazendo caminhos, caminhos sobre o mar. Caminhante não há caminho, senão há marcas no mar...”. Façamos o melhor da caminhada. Superemos todos os obstáculos. O futuro aguarda nossa contribuição.
E assim como Vinicius de Moraes inspirou nossas primeiras palavras, com seus versos concluímos lembrando a todos: “É melhor ser alegre que ser triste. Alegria é a melhor coisa que existe. É assim como a luz no coração”.  
A benção de todos e a todos, diria o poetinha camarada. Sejam Felizes!
Muito obrigado!

Joper Padrão do Espirito Santo

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