No Domingo 23 de julho, em uma das praias da Cidade Maravilhosa, 91 cruzes negras foram fincadas na areia, simbolizando os
policiais militares mortos ao longo dos primeiros meses de 2017.
Na parte da tarde a senhora
Fernanda, viúva do sargento Hudson, morto no Vidigal, concedeu entrevista ainda
no necrotério. Dizia ela: “Eu estou viúva sem marido, meus filhos órfãos sem
pai, enquanto o governador do estado está em um SPA de 14.000 reais por
semana”.
Pouco importa quem irá pagar essa
conta no SPA. Importa, sim, saber que a pessoa que deveria estar no comando da gestão estadual nesse momento de indiscutível crise que se aproxima do caos social toma tal
atitude. Afinal, doentes buscam em hospitais ou casas de saúde a recuperação de
seus males. tentar explicar que um SPA também seja um local para tratamento de saúde não convence aqueles que buscam as UPAs e os |Hospitais públicos e deixam de ser atendidos por absoluta falência da máquina governamental. Soa, sim, como escárnio, pouco caso com os seus semelhantes.
Sexta feira, 14 de julho, após
palestra que fiz ao final da tarde no IBMEC Rio, eu retornava ao meu lar quando
no início da noite, às 20:00 hs, num engarrafamento, em local de grande
trânsito e bem iluminado junto ao estádio do Maracanã, fui vítima de um
atentado a minha vida, com o disparo de uma arma de fogo por alguém que nada me
subtraiu; muito pelo contrário, me deu a chance de sobreviver para dar ainda
maior utilidade a minha vida.
Com o braço direito dilacerado
pelo tiro, e com forte hemorragia fruto do rompimento da artéria ligada a veia
cava, consegui energia e lucidez para conduzir meu próprio carro até o hospital
mais próximo onde mereci os primeiros socorros e a cirurgia ortopédica para
recomposição do úmero dilacerado em fratura exposta. Do ocorrido, resta a
paralisação de minha mão direita como resultado do rompimento do nervo axial.
Como destro que sou, terei que me reeducar e superar as adversidades
resultantes desse lamentável episódio.
Longe de mim a intenção de me vitimizar
ou tornar-me mártir. No entanto, a mesma lucidez que tive me leva a profundas reflexões.
Como terão reagido Roosevelt, Churchill ou Stalin nas doenças de que certamente
padeceram durante a Segunda Grande Guerra? Terão eles buscado recuperação em
estâncias de repouso de alto luxo em suas regiões? Ou terão se mantido com sobriedade
a frente de seus postos de comando, inspirando seu povo a resistir e perseverar
na direção da vitória?
Semana passada numa grande
reunião em Brasília em que representantes do Governo Federal e do Estado
reuniram-se para anunciar ao povo “nenhuma novidade”, como se socorro estivesse
sendo concedido magnanimamente ao Estado do Rio, assistimos a lamentável
entrevista do Governador que em atitude de espanto declarou publicamente que
desconhecia que os reforços anunciados já se encontravam no Estado sob o seu
comando. Se fosse o líder de nossa família, essas e outras atitudes levariam os
familiares a pensar na interdição de uma pessoa que demonstra ter perdido lucidez
e o senso de decisão. Como se trata de alguém eleito pela população, não há que
se cogitar dessa solução jurídica. Porém a Constituição Federal aponta remédio
legal para situações semelhantes às vividas pelo povo fluminense. Refiro-me ao
artigo 34 que dispõe sobre as condições de intervenção da União nos Estados em
situação de exceção.
Nestes dias de UTI e em meu leito
hospitalar mantive minhas orações, constantes desde menino, em peço a Deus forças
para ser útil a cada dia, a um número sempre maior de pessoas. Fruto dessas
reflexões entendo que minha sobrevivência me impulsiona a propor que o povo
fluminense e os cariocas como parte, tenha a altivez de clamar à Nação para que
a União faça, sem maiores delongas, a sua parte cumprindo o disposto na artigo
34 da Constituição Federal.
Os cariocas viram a capital
federal lhes ser subtraída e nada disseram à época. Fluminenses e cariocas
viram a fusão dos seus Estados acontecer sem que nada tivessem dito na ocasião
própria. Lembra o poema do niteroiense Eduardo Alves da Costa (No Caminho com Maiakóviski). Esse é, pois, o momento de tomarmos as rédeas de nosso destino e como povo
apontar a solução: a aplicação do artigo 34 da Constituição Federal.
Da Tribuna Ivette de Castro
Siqueira, do Rotary Club RJ – Tijuca, assim como na reunião Plenária do
CR RJ, fiz estas minhas palavras ecoarem como sementes plantadas em
solo fértil no coração dos que me ouçam ou leiam, alcançando meus irmãos fluminenses e fazendo com
que o clamor pela intervenção da União no Estado do Rio de Janeiro dê novo rumo
à nossa História, virando a triste página do vazio governamental que nos faz
temer mais e mais a cada novo dia.
Ilustração http://economia.estadao.com.br/blogs/o-direito-ao-seu-alcance/a-constituicao-da-republica-completa-27-anos/ colhida em 26/7/17
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