domingo, 3 de maio de 2020

Repensar o que fazer com o Lixo é possível. Gaia agradece!



Quando nasci, minha mãe cuidou de minha higiene lavando inúmeras fraldas de pano todos os dias. O que eu gerava de lixo? Nada. Produzia dejetos que iam para os esgotos. E só! Idos de 1948, há 72 anos atrás.
Fui o terceiro de três filhos, com diferença de 10 anos para minha irmã, a mais velha do trio. Lembro que lá pelos meus 6 ou 7 anos, eu recebia de suas mãos, uma vez por mês, um bilhetinho em papel dobrado. Minha função era levar esse recado escrito até o armarinho com uma certa importância e trazer de volta um embrulho com o troco da compra. O dono do armarinho, um debochado impiedoso, me dizia: lá vai o Modess da mana. Sua mãe ainda usa toalhinhas.
Hoje isso seria taxado de bullying. Naquela época eu desconhecia o teor do que ele bravejava, mas me sentia envergonhado ao levar de volta o tal embrulho. Mas era fato. Rapaz, eu compreendi. Mamãe, em seu período menstrual, usava toalhas higiênicas, de tecido, laváveis, enquanto minha irmã, mais moderna, usava absorventes descartáveis, gerando resíduos dispostos junto com o lixo comum da casa.
Depois da puberdade comecei a me barbear. Ganhei de presente um aparelho da Gilette igual ao de meu irmão e de meu pai. Orgulho. Esse aparelho os acompanhava desde rapazes. Era uma honraria; eu passava a ser um rapaz. Só precisaria trocar a lâmina a cada 4 dias. O que eu produzia de lixo? Apenas aquela lâmina pequena descartada com cuidado para evitar ferir o lixeiro. Adulto, fui levado a trocar o meu aparelho de barbear por um aparelho plástico que, uma vez por semana, ia pro lixo
Em 7 décadas presenciei inúmeras mudanças de hábitos provocadas pelo mercado de produtos de consumo, da fralda de pano, da toalhinha higiênica e da lâmina Gillete a muitos e muitos outros produtos que, em última instância, transformaram as pessoas em geradoras incansáveis de lixo.
Em 1991 fui convidado a moderar um evento em Curitiba, organizado pelo SENAI do Paraná, para mediar um dos painéis de um evento internacional em que o representante do Ministério do Meio Ambiente do Canadá fez uma exposição sobre a nova etapa que naquela ocasião era implantada pelo Plano Verde daquele País. Discorreu sobre os esforços na redução de embalagens mostrando o empenho e investimentos governamentais para que produtos chegassem ao consumidor com menor geração de resíduos.
Na introdução de seu discurso, o expositor falou que na etapa anterior o governo montou uma cadeia de distribuição de alimentos produzidos por hotéis e restaurantes que, ao final da noite, ao invés de descartarem no lixo  esses alimentos, os mesmos eram entregues a organizações sociais confiáveis como o Rotary cujos voluntários levavam esses alimentos para igrejas que distribuíam em forma de refeições a pessoas necessitadas. Uma cadeia do bem. Redução do impacto em aterros sanitários, envolvimento de voluntários, alimentação de pessoas carentes e transformação dos resíduos em esgotos.

No intervalo para o almoço, fomos convidados a um daqueles magníficos restaurantes em Santa Felicidade. Como de costume na região, nos foi apresentado um cardápio variado com serviço farto. Como nos é comum, depositávamos aparas da carne servida nos pratos de apoio, além de comermos de tudo um pouco. Nosso convidado estrangeiro participava incrédulo. Assistia à cena enquanto saboreava uma caipirinha. Num dado momento, mais solto (caipirinha ajuda bastante ...) ele nos disse: Sabe quando vocês terão um plano verde??? E deixou a pergunta no ar.
Estas palavras ainda ecoam em meu pensamento como pode ser notado neste texto.
Pois então, a dezembro de 2019, qual vinha sendo o nosso comportamento quanto aos resíduos que produzimos? Creio que o mesmo de agora, com raras exceções. Alguns esforços aqui e acolá devem ser reconhecidos como as restrições à fabricação de canudos plásticos e o incentivo ao uso de bolsas retornáveis nos supermercados, em substituição à orgia das sacolas plásticas. Mas, e do resto?
Resido num prédio na Tijuca, bairro de classe média. Na Cidade do Rio de Janeiro há uma Lei municipal que trata da coleta seletiva e a rua onde moro está inserida no roteiro duas vezes por semana. Faço a minha parte separando o lixo seco e descartando o lixo orgânico pelo duto da lixeira coletiva. Costumo higienizar o lixo sólido e deixá-lo num compartimento no andar em que o apartamento se localiza. Os empregados do condomínio são atenciosos e cumprem com suas obrigações. No entanto carecem de orientação adequada e, 4 vezes ao dia, recolhem o lixo seco de todos os andares num saco preto, misturando tudo o que encontram.  
Duas vezes por semana, a coleta desses resíduos é feita por um caminhão compactador do serviço público. Ou seja: plásticos, pets, vidros, latas, tudo é compactado formando um único tijolão que, mais adiante, vai ser depositado numa colônia de catadores. Pergunto: para catar o que, se está tudo junto e misturado?


Comungo com o conceito estabelecido pela ZWIA – Zero Waste International Alliance no que trata do Lixo Zero como uma meta ética, econômica, eficiente e visionária para guiar as pessoas a mudar seus modos de vidas e práticas de forma a incentivar os ciclos naturais sustentáveis, onde todos os materiais são projetados para permitir sua recuperação e uso pós-consumo.(¹)

Sim é possível e nesses momentos de isolamento social, quase de reclusão domiciliar, Gaia nos concede a oportunidade ímpar de disponibilidade de tempo para reflexões sobra a vida, de análise crítica de condutas e hábitos do cotidiano que impactam o Planeta que nos acolhe.
Cada um de nós pode considerar a alternativa de evitar a geração de lixo (recicláveis, orgânicos ou rejeitos) em nossas residências ou ocupações profissionais ou empresariais. É desafiante sem dúvida, mas edificante.  
Podemos destinar objetos sem uso para bazares de instituições filantrópicas, por exemplo. As tampinhas plásticas de refrigerantes, embalagens de leite e outras mais podem ser destinadas a projetos de reciclagem
E Você, que lê esse texto, certamente tem sugestões de como podemos ser mais generosos com Gaia, reduzindo o consumo desmedido e a disposição inadequada de resíduos. Assim, fica o desafio. Envie um comentário e diga como você entende ser possível repensar o que fazer com o Lixo. A coletânea de comentários será considerada e agregará valor a estas reflexões. E Gaia agradece.


Imagens colhidas em: https://www.trisoft.com.br/lixo-zero-beleza-de-um-mundo-sem-lixo/ https://www.tripadvisor.com.br/Restaurant_Review-g303441-d2325642-Reviews-Dom_Antonio-Curitiba_State_of_Parana.html https://www.srzd.com/brasil/comlurb-recolheu-155-toneladas-de-residuos-no-game-xp-no-rio/ https://br.freepik.com/fotos-vetores-gratis/ponto-de-interrogacao

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