sábado, 18 de abril de 2020

Água é Vida! Vida que mantém Vida!


Aos 18 anos eu me habilitava em um processo seletivo para ser admitido na então recém criada Companhia Estadual de Águas da Guanabara – a CEDAG. Muito jovem, eu era o 76º profissional contratado para formar a equipe da Companhia, lotado na área de contabilidade. Cheio de entusiasmo, mal sabia que naquele mês de dezembro de 1966 minha vida ganharia uma nova dimensão.

Éramos pioneiros; estávamos constituindo a primeira equipe de profissionais da primeira empresa estadual de saneamento do Brasil. Surgíamos de uma gigantesca crise de abastecimento na Cidade do Rio de Janeiro, quando .a unidade denominada Elevatória de Baixo Recalque da antiga Estação de Tratamento do Guandu entrou em colapso total comprometendo a produção de água para toda a população carioca.

A nova Companhia representava uma resposta da autoridade pública. Obras monumentais como a Nova Estação de Tratamento do Guandu, a Elevatória do Lameirão e o túnel em rocha viva que levaria água até o Horto Florestal (na Zona Sul) eram implementadas com recursos internacionais, projeto denominado “Água até o ano 2000”.

A partir aqueles dias, passei a fazer parte de um brioso grupo de profissionais que dizia ´correr em nossas veias”, aquela água potável servida diuturnamente a milhões de habitantes, uma poderosa ação de saúde preventiva. Em nosso cotidiano, sentíamos o valor de nosso trabalho para nossos concidadãos e para as nossas próprias famílias.

Desde então são mais de 50 anos dedicados a essa função que tanto enobrece a todos os que militam no campo do abastecimento de água.

Ao ministrar aulas sobre educação ambiental em cursos variados, desde estudantes do ensino fundamental a alunos de pós graduação, que produzi quando Presidente da Seção do Rio de Janeiro da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, percebi o quanto as pessoas tinham a dificuldade de valorizar a água. Nas dinâmicas, crianças me diziam que a água nascia na parede (nas torneiras) enquanto adultos graduados desconheciam quais os mananciais que os abasteciam e ignoravam os riscos dos sistemas de produção e distribuição desse precioso líquido.

Hábitos de consumo completamente equivocados eram comuns como a vassoura hidráulica (porteiros e faxineiros lavando as calçadas com água corrente),

a rega de jardins com água ratada, 

descaso com vazamentos (tanto nas residências quanto nas instalações públicas) 
e descasos que formam um elenco interminável de atitudes equivocadas nas atividades profissionais, empresariais ou individuais.

A água de boa qualidade para consumo humano deve seguir os padrões de potabilidade fixados pelas autoridades sanitárias. E, para o cidadão comum, deve ter 3 qualidades básicas: ser insípida, inodora e incolor. Ou seja, sem sabor ou cheiro, e cristalina.

Em janeiro de 2020, no entanto, a população abastecida pelo sistema Guandu, cerca de 9 milhões de habitantes, se viu diante de algo surpreendente. O episódio difundido pela imprensa como “a crise da geosmina”, que alterou em algumas localidades, e por um lapso de tempo, essas características básicas. A água teve sabor e cheiro de terra e, em alguns bairros, uma turbidez incomum. Medidas corretivas adotadas, tanto na substituição do executivo da Companhia, quanto no processo de tratamento, restituíram as características da água e, daí por diante, a população voltou a resgatar gradualmente a confiança nesse bem de valor inestimável para o bem-estar e saúde das pessoas e para a produção econômica.

Eis que de repente o Brasil se vê aturdido pela Pandemia causada pela coronavírus, provocando medidas sanitárias de proteção (como a paralização das atividades e a recomendação do isolamento social) cujas consequências só poderão ser estimadas no futuro próximo, depois que a crise aguda for superada. O vírus tem uma capacidade inacreditável de contágio e uma agressividade quase incontrolável pela ciência. Para neutralizar o seu avanço um ponto se mostra como senso comum: higiene, higiene, higiene. Lavar as mãos é o grande agente de combate à sua propagação. Prelos mais variados meios (alguns extremamente criativos como a exibição do maestro a frente da Orquestra Sinfônica do Amazonas) as pessoas são bombardeadas com orientações de como lavar as mãos constantemente.

E, nesse momento, lá está ela, a água de boa qualidade, como um agente poderoso para garantir a saúde das pessoas.

Nesse Dia Internacional da Água de 2020, dedico minha mensagem em reconhecimento ao papel desempenhado pelos profissionais das empresas operadoras dos serviços de abastecimento, como a CEDAE, no Rio de Janeiro, e todas as outras espalhadas pelo País. São pessoas que merecem ser aplaudidos junto com os profissionais da saúde (assim denominados médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros). São esses anônimos homens e mulheres que permanecem em seus postos de trabalho para nos garantir essa água que hoje celebramos e que pode servir como poderosa arma de defesa contra o avanço da Covid 19. Graças a eles e elas, aqueles que dispõem desse valioso líquido em suas residências, poderão estar em isolamento social assegurando a proteção da saúde de cada um e de seus familiares.

Água é Vida! A todos e a todas que nos proporcionam a chance de usá-la  como Vida que mantém a Vida, os meus respeitos e efusivos aplausos.



Nenhum comentário:

Postar um comentário