Aos 18 anos eu me
habilitava em um processo seletivo para ser admitido na então recém criada
Companhia Estadual de Águas da Guanabara – a CEDAG. Muito jovem, eu era o 76º
profissional contratado para formar a equipe da Companhia, lotado na área de
contabilidade. Cheio de entusiasmo, mal sabia que naquele mês de dezembro de
1966 minha vida ganharia uma nova dimensão.
Éramos pioneiros; estávamos
constituindo a primeira equipe de profissionais da primeira empresa estadual de
saneamento do Brasil. Surgíamos de uma gigantesca crise de abastecimento na
Cidade do Rio de Janeiro, quando .a unidade denominada Elevatória de Baixo
Recalque da antiga Estação de Tratamento do Guandu entrou em colapso total comprometendo
a produção de água para toda a população carioca.
A nova Companhia
representava uma resposta da autoridade pública. Obras monumentais como a Nova
Estação de Tratamento do Guandu, a Elevatória do Lameirão e o túnel em rocha
viva que levaria água até o Horto Florestal (na Zona Sul) eram implementadas
com recursos internacionais, projeto denominado “Água até o ano 2000”.
A partir aqueles dias,
passei a fazer parte de um brioso grupo de profissionais que dizia ´correr em
nossas veias”, aquela água potável servida diuturnamente a milhões de
habitantes, uma poderosa ação de saúde preventiva. Em nosso cotidiano,
sentíamos o valor de nosso trabalho para nossos concidadãos e para as nossas
próprias famílias.
Desde então são mais de
50 anos dedicados a essa função que tanto enobrece a todos os que militam no
campo do abastecimento de água.
Ao ministrar aulas
sobre educação ambiental em cursos variados, desde estudantes do ensino
fundamental a alunos de pós graduação, que produzi quando Presidente da Seção
do Rio de Janeiro da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental,
percebi o quanto as pessoas tinham a dificuldade de valorizar a água. Nas
dinâmicas, crianças me diziam que a água nascia na parede (nas torneiras)
enquanto adultos graduados desconheciam quais os mananciais que os abasteciam e
ignoravam os riscos dos sistemas de produção e distribuição desse precioso
líquido.
Hábitos de consumo
completamente equivocados eram comuns como a vassoura hidráulica (porteiros e
faxineiros lavando as calçadas com água corrente),
descaso com vazamentos (tanto nas residências quanto nas instalações públicas)
e descasos que formam um elenco interminável de atitudes equivocadas nas
atividades profissionais, empresariais ou individuais.
A água de boa qualidade
para consumo humano deve seguir os padrões de potabilidade fixados pelas
autoridades sanitárias. E, para o cidadão comum, deve ter 3 qualidades básicas:
ser insípida, inodora e incolor. Ou seja, sem sabor ou cheiro, e cristalina.
Em janeiro de 2020, no entanto, a população
abastecida pelo sistema Guandu, cerca de 9 milhões de habitantes, se viu diante
de algo surpreendente. O episódio difundido pela imprensa como “a crise da geosmina”,
que alterou em algumas localidades, e por um lapso de tempo, essas
características básicas. A água teve sabor e cheiro de terra e, em alguns
bairros, uma turbidez incomum. Medidas corretivas adotadas, tanto na
substituição do executivo da Companhia, quanto no processo de tratamento, restituíram
as características da água e, daí por diante, a população voltou a resgatar gradualmente
a confiança nesse bem de valor inestimável para o bem-estar e saúde das pessoas
e para a produção econômica.
Eis que de repente o
Brasil se vê aturdido pela Pandemia causada pela coronavírus, provocando
medidas sanitárias de proteção (como a paralização das atividades e a
recomendação do isolamento social) cujas consequências só poderão ser estimadas
no futuro próximo, depois que a crise aguda for superada. O vírus tem uma
capacidade inacreditável de contágio e uma agressividade quase incontrolável
pela ciência. Para neutralizar o seu avanço um ponto se mostra como senso
comum: higiene, higiene, higiene. Lavar as mãos é o grande agente de combate à
sua propagação. Prelos mais variados meios (alguns extremamente criativos como
a exibição do maestro a frente da Orquestra Sinfônica do Amazonas) as pessoas
são bombardeadas com orientações de como lavar as mãos constantemente.
E, nesse momento, lá
está ela, a água de boa qualidade, como um agente poderoso para garantir a
saúde das pessoas.
Nesse Dia Internacional
da Água de 2020, dedico minha mensagem em reconhecimento ao papel desempenhado
pelos profissionais das empresas operadoras dos serviços de abastecimento, como
a CEDAE, no Rio de Janeiro, e todas as outras espalhadas pelo País. São pessoas
que merecem ser aplaudidos junto com os profissionais da saúde (assim
denominados médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros). São esses
anônimos homens e mulheres que permanecem em seus postos de trabalho para nos
garantir essa água que hoje celebramos e que pode servir como poderosa arma de
defesa contra o avanço da Covid 19. Graças a eles e elas, aqueles que dispõem
desse valioso líquido em suas residências, poderão estar em isolamento social
assegurando a proteção da saúde de cada um e de seus familiares.
Água é Vida! A todos e a todas que nos proporcionam
a chance de usá-la como Vida que mantém
a Vida, os meus respeitos e efusivos aplausos.
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